quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Minhas Leituras

Uma reflexão para pedagogos, professores e alunos. Uma Fala da irmã do professor Coleman Silk, acusado de racismo por ter utilizado o termos inglês "Spooks" para dois alunos que nunca vira em sala de aula, - personagem do romance A marca humana, de Philip Roth:

"O que aconteceu com o Coleman por causa da palavra "spooks" faz parte de um grande fracasso geral. No tempo do meu pai, e ainda no meu e no seu, quem fracassava era o indíviduo. Agora é a disciplina. Ler os clássicos é muito difícil, por isso a culpa é dos clássicos. Hoje, o aluno afirma sua incapacidade como privilégio. Eu não consigo aprender essa matéria, então essa matéria deve ter algum problema. E deve ter algum problema o professor que resolve ensiná-la. Não há mais critério senhor Zuckeman, só opiniões".

Philip Roth, A marca Humana.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Minhas Leituras






















A Marca humana e A Trégua: a vida como derrota

I

Dois homens na segunda fase da vida. Um setenta em três, o outro cinquenta. Ambos envolvem-se com mulheres que têm metade de suas idades. Relação que possibilita ao mesmo tempo uma trégua e uma queda a estes personagens. Estamos falando de Coleman Silk e Martín Santomé. O primeiro personagem principal do romance de Philip Roth, A marca Humana (2002); o segundo é personagem-narrador de A Trégua (2011), de Mário Benedetti.

Coleman Silk vem a lume pela narrativa do narrador-escritor Natan Zuckeman, um possível alter ego de Roth. Ele nos revela a tragédia de Silk, um professor universitário prestes a se aposentar. Silk assumia o cargo de Decano e queria se aposentar fazendo o que sempre fez: ministrar aulas de literatura clássica. Por usar o termo spooks para refereir-se as dois alunos que nunca frenquentaram suas aulas (e não imaginava quem eram), Silk é acusado de racismo. Devido ao processo, Silk pede demissão e sua mulher morre de um avc e ele revolta-se. Mas surge-lhe uma trégua. Silk conhece a faxineira da universidade em que trabalhava e mantém com ela uma relação tumultuosa. A essa mulher, ele revela um segredo que carregara durante toda a vida.

Martin Santomé um viúvo às via de se aposentar indaga-se sobre o que fazer com o tempo que estará a seu dispor despois da aposentadoria. Com três filhos já adultos e viúvo a mais de vinte anos, Santomé sofre a solidão. Enquando aguarda o período para solicitar aposentadoria, ele apaixona por uma nova funcionária da empresa de contabilidade em que trabalha. Essa paixão,correspondida, cria uma suspensão, uma trégua na ordem natrural das coisas desse sujeito cada vez mais próximo da morte. O romance construído como um diário-íntimo nos apresenta, por assim dizer, esse tempo em suspenso na vida de Santomé.

II

Tégua é um intervalo entre guerras, entre tumultos. Para Silk a trégua aparece sobre o nome de Faunia Faley. Para Santomé pela jovem Avellaneda.

III

Coleman Silk e MArtin Santomé revelam o quanto são pesados os condicionamento ontológicos, históricos e sócias. Cada um a sua maneira. Um mais efusivo. O outro mais contido. A marca humana deles, e nossa.

Santomé passa a vida num trabalho que realiza sem prazer pela obrigação de sustentar e educar os filhos, após a morte da primeira mulher. Com a aparição de Laura Avellaneda ousa uma rebeldia, uma transgressão, um salto que é ao mesmo tempo uma queda.

Silk, de forma mais efusiva, ao renegar a família para esconder a descendência negra, ao não aceitar se retratar na acusação de racismo, ao relacionar-se com Faunia Farley, uma relação que podería trazer-lhe sérios próblemos, inclusive a morte, já que Faunia era perseguida por um ex-marido ex-combatente do Viatnã.

IV

A trégua explora, à sua maneira, a alienação do homem contemporâneo. A trégua é justamente o intervalo entre a alienação do trabalho e o vazio da aposentadoria. Por isso, Santomé anuncia o fim do diário após a morte de Avellaneda. Só lhe resta o vazio e sobre isso ele não qur escrever.
A marca humana, com a narrativa contextualizada no período em que o presidente americano Bill Clinton é envolvido num escândalo sexual. Uma das questões do livro é justamente este tempo hipócrita politicamente correto.

Mesmo fadados à derrota, mesmo condenados pelo destino e pela própria condição, Silk e Santomé são sujeitos que tentam tomar o rumo de suas próprias vidas. São conscientes de sua própria condição. Ao escrever diário e ao narrar parte de sua vida a Natan Zuckeman, Santomé e Silk revelam uma condição paradoxal: a de herói-vítima.

V

Ambos os romances tem o tumulto como elemento central. Ou seja, o mal, o excesso humano, a força transgressora.

Nas anotações finais de seu diário Santomé escreve:

É evidente que Deus me concedeu uma destino escuro. Nem sequer cruel. Simplesmente escuro. É evidente que me concedeu uma trégua. A princípio relutei em acreditar que isso pudesse ser a felicidade. Resistir com todas as forças, depois me dei por vencido e acreditei. Mas não era felicidade, era apenas uma trégua. Agora estou outra fez medido em meu destino. E é mais escuro do que antes.
Em a Marrca humana, este tumulto e definido por Faunia Farley:

[…] Impureza, crueldade, maus-tratos, erros excrementos, esperma – não tem jeito de não deixar. Não é uma questão de desobediência. Não tem nada a ver com graça nem salvação, nem redenção. Está em todo mundo. Por dentro, inerente. Definidora. A marca que está lá antes do seu sinal. Mesmo sem nenhum sinal, ela está lá. A marca é tão intrínseca que não precisa de sinal. A marca precede a desobediência e confunde qualquer explicação.


VI

Ambos os romances nos revelam que “a vida humana como tal é uma derrota. A única coisa que nos resta diante dessa inelutável derrota que chamamos vida é tentar compreendê-la. Eis aí arte de ser do romance” (KUNDERA, 2006, p. 17).














domingo, 24 de fevereiro de 2013

O plano estadual para a leitura e o livro


Você sabia que a Secult-BA e a Sec-BA estão elaborando um Plano Estadual do Livro e da Leitura? Os responsáveis pela empreitada, e que encabeçam a Comissão Executiva e a Presidência, são as duas sumidades que se seguem, ambas funcionárias da Secult-BA e mulheres de confiança do Sr. Albino Rubim.

A diretora da Biblioteca Monteiro Lobato, Rosane Rubim, que jamais leu um livro sequer, é amiga de infância de qualquer pessoa famosa, com algum poder em mãos, e, como se isso fosse pouco, é irmã do Secretário de Cultura, Albino Rubim, que a protege em todos os recreios, embora em público só a trate por Rosane, com receio de pronunciar o próprio nome e ser tomado também por uma alimária.

Laura Bezerra, que passa as reuniões a declinar um mantra, sempre que é convocada a opinar: "Acho que devemos ter muito cuidado com certas afirmações". Desconfia-se de que ela seja um robô e esteja com algum curto circuito irreparável. É a Bahia na vanguarda da tecnologia!

Esta ilustre dupla tem o aval do secretário, que, além de fazer da Secult-BA um laboratório de suas teorias de sala de aula e empossar, sob o incentivo de altos salários, seus ex-alunos e compadrio do meio acadêmico, tem a pretensão de, sem ouvir nem consultar os componentes da Rede Produtiva do Livro, criar um Plano Estadual do Livro e da Leitura. Só se for para boi dormir!

Este secretário está mais interessado em eleitores do que em leitores, e por isso, com sua indiferença e seu desdém para com o livro, a leitura e a literatura na Bahia, promove a falência do setor, empurrando os escritores para os seus editais burocráticos, cujos recursos ou não são liberados ou o são somente para alguns, mais iguais que outros. Como bem disse Tostão, certa vez, se referindo ao técnico Luxemburgo, o Sr. Albino Rubim é do tipo que costuma, no Natal, dar e receber panetones. Deveria abrir uma padaria, mas que, obviamente, não seria nada espiritual.

E neste começo de ano, pós-morte do prof. Ubiratan Castro de Araújo, o secretário parece, mais do que nunca, desejoso de ajustar para baixo a imagem da Fundação Pedro Calmon, que, com as ações desenvolvidas nos últimos anos, ofuscou a Secult-BA e, claro, a figura do próprio secretário, mosca tonta para a benesse de sua trupe.

É lamentável que o insigne governador Jacques Wagner, em quem a massa de eleitores da Bahia depositou todas as esperanças de reformulação social, educacional e cultural, ainda se deixe enganar por estes“colaboradores” da cultura baiana. Nós escritores estamos vivos, governador! A Bahia não pode ser só carnaval e aparência. Nosso estado, como os demais do Brasil, produz literatura, ideias e pensamentos profundos, que, no entanto, se não são publicados, morrem por aqui. Ou será que todos pretendemos continuar a alcunha risível de que esta é a Bahia de Jorge Amado, como arrota, sempre que pode, a amiga de todo mundo, a Sra. Rosane Rubim?

Mayrant Gallo, escritor e professor de Teoria da Literatura. Publicou, entre os outros livros, O inédito de Kafka(CosacNaify, 2003).

 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Mini conto


O argumento



Os anos acumularam sobre a mesa do escritório os vários cadernos e blocos, as várias canetas e lápis. Acumularam-se também os vários livros sobre criação e escrita. Na rua, nada escapava a seu olhar. Via nas vidas dos outros um romance, um conto, uma novela, sepultados em textos incompletos. Tentou até um diário, perdido entre tantos outros cadernos em branco. Persistente, começou a correr atrás de argumentos.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Poemas do ócio

Graças a um ócio salutar e leituras de grandes autores, escrevi essas coisas que nomino poemas, espero não cometer nenhuma heresia à grande poesia e aos grandes poetas:



Na praia com Dickinson

O mar é meio esquisito,
Levar a vida a brincar,
a fingir de infinito.

Brinquedo no quintal


A Mangueira é só e basta,
eu, este outro a refletir o fim,
sentada, minha filha brinca,
finge de iludir.


Entre

Entre a tarde e o verso,
o excesso
e a praça de alimentação.


Entre a tarde e o verso,
O desejo
E uma Babel de pernas.


Entre a tarde e o verso,
A tarde e outra tarde,
Feita de versos.


(A tarde podre, de frutas
e memórias podres).


Entre a tarde e o verso,
O avesso e a valsa
Na tela da tarde.