terça-feira, 21 de maio de 2013

Mera coincidência, São João fora de época do Picado e a macumba para turista




Qual a relação entre o São João do Picado e o o filme Mera coincidência?

Explico. Começo pelo filme.

O filme dirigido por Barry Levinson e estrelado por Dustin Hoffman e Robert de Niro conta a seguinte história: O presidente e canditado à reeleição envolve-se em um escândalo sexual, há 11 dias da eleição. Para solucionar o caso e impedir a derrota nas eleições, o presidente incumbe sua acessora de imprensa de resolver o problema. A solução encontrada por ela e pelo publicitário Conrad Brean – interpretado por De Niro – foi criar uma guerra fictícia contra a Albânia. Para construir o espetáculo da guerra, eles contratam o produtor de Hollywood Stanlay Moss (Hoffman) para produzir um verdade irrfutável aos moldes cinematógráficos. Esse é norte básico da excelente e irônica comédia.

A mídia cobre ou faz o fato?

Ao chegar do trabalho, noto todo um cenário junino montado no Picado. O que vai acontecer? A TV Bahia está cobrindo as festas juninas e veio “cobrir” a festa tradicional que está para acontecer com suas quadrilhas, músicas e barracas. Uma festa montada exclusivamente para repórteres e técnicos da TV. Ou como diria os Hengenheiros do Hawaii, “macumba para turista” e para turista baiano mesmo.

Hoje, 21 de maio, seria mais um dia qualquer no Picado. Novela para alguns, crianças na praças e alguns homens esquecendo de si, religiosamente, no jogo de dominó. A única coisa que maio traz diferente de outros meses são as novenas marianas, marcadas sobretudo pelas ladainhas a Virgem Santa. Depois da igreja, homens e mulheres voltariam à rotina banal. E a praça estaria entregue aos insetos e as estrelas, como acontece desde os inícios dos tempos.

Restano-nos, como os personagens de Drummond no poema “Segredo”, passar o óleo e esquecer. No caso, ouvi o bom pé-de-serra e esquecer. Pois, é a mesma história há 500 anos. Alguns poucos ganham, a imensa maioria perde.

Minhas Leituras

Deixo aqui um belo fragmento do romance Os encantos do sol, de Mayrant Gallo: 

[...] Não é à toa nem gratuita a conclusão de Boris Vian: "antes a pornografia que a guerra". Mais pornografia menos guerras. E é Truffaut que arremata: "Não se pode fazer amor da manhã à noite, por isso inventarm o trabalho". Por isso, inventaram a guerra, os tabletes de chocolates, os cartões dew crétido, os suplemtos de domingo nos jornais, os cultos religiosos, o telefone celular, os prazos de entrega de teses e dissertações, as teses, as dissertações...E as passeatas, os comícios, as reuniões, os estádios cheios, todas as manifestações que acabam em discurso ou palmas, os romances históricos e, claro, os histéricos - que não são poucos. Não mais que sucedâneos do orgasmo (p. 140).

Um escritor consciente de seu ofício.