quinta-feira, 16 de julho de 2009

“O gato por dentro”

Um amigo escritor sempre me disse que nada acontece por acaso. Duvidava da frase. Eu rezava no credo sartreano: "O homem é suas escolhas". Um utro amigo poeta, tempos atrás, deu-me o livro de William Burrougs, O gato por dentro, em que que o escritor americano, num tom de ironia amarga, contava sua vivência com gatos. Li deliciosamente esse livro que me permitia entra na alma felina e na alma humana, afinal os gatos sempre estiveram presente na minha vida . Chegavam não sei de onde e se instalavam.
Foi o caso de Gatinha. Chegou e tomou posse da casa. Deu-me umas três ou quatro ninhadas de gatos, que iam se acumulando ou substituindo os desistentes, os que sumiam sem deixar vestígios.
Gatinha cuidava de sua última ninhada. Numa manhã, ela e um dos filhotes amanheceram mortos. Comeram restos de veneno para ratos no quintal dos vizinhos. Encontrei estática no fundo do quintal, o filhote ainda agonizou alguns instantes.
Minha filha, ao meu lado, assistia a tudo sem muito espanto. Era sua primeira morte.
Ao despejar a par de terra sobre o buraco improvisado para mãe e filho, recordei a dedicatória do amigo poeta: "ao amigo, que agora sei que sentia algumas dores inexplicáveis. Ele tinha o gato por dentro". Sim, "somos gatos por dentro". Os gatos que não podem andar sozinhos, e para nós há apenas um lugar". Nada acontece por acaso.

3 comentários:

  1. Nunca gostei muito de gatos, sempre preferi cães, mas surgiram dois na minha vida (de minha sobrinha) que me conquistaram. Recentemente, ganhei o livro de poesias de Lúcia Santóri-Carneiro. Toda vez que vejo um gato agora lembro dela, por causa das poesias GATO, AZUL e VERDE. Agora fiquei curiosa em ler o livro de Burrougs. Muito bom teu post, Paulo. Adorei o final: "Os gatos que não podem andar sozinhos, e para nós há apenas um lugar." Só me resta saber qual é esse meu lugar. Um abraço!

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  2. A gente não vive, perdura. Dias, minutos, cada gota de sobrevida permite-nos entrever um lugar cada vez mais difuso, borrado pelo tempo. Daí o olho azul do gato, "mar que anda pela casa"(Lúcia Santori-Carneiro). Aquele abraço. T

    P.S: E sim, tenho (e celebro) o livro de Burroughs.

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  3. Gostei, Paulo. Também gostei do seu blogue. Voltarei outras vezes.

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