terça-feira, 28 de julho de 2009

Insonia II

A noite está cheia de pregos. Não me venham com histórias de que a lua exibi-se lascívia. Já não tenho o tesão dos vinte anos. Para que escrever poemas sobre a noite se ela sempre vem. E vem cheia de pregos. De nada adianta. Só me faz sentir cada ponta de prego dilacerar meu corpo. Quem dera pudesse escrever com a agudeza angustiante de Cioran. Mas sou um reles pateta, perdido da noite. O pior de tudo é ouvir os galos que carregam a negação de Pedro. Que espécie mais infame, a cada canto recorda-me que minha jornada noite adentro será longa. A noite me tira qualquer possibilidade de comunicação. Estou só ante a noite e essa dor no peito. Estou só e nu. A noite me despe de todas as máscaras. Um sujeito fraco e mesquinho é o que resta de mim dentro da noite. E enquanto os pássaros despertam, despeço-me da noite até logo mais e aguardo seu retorno, cheia de pregos.

Um comentário:

  1. Giz letal de borrar qualquer um. Melhor terapia, impossível. Aquele abraço.

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