domingo, 27 de março de 2011

Bosques por onde passeio

O Modus Operandi de uma rica alquimia poética


Georgio Rios é um fatalizado. Essa confirmação me veio com a leitura do seu Modus operandi (2010). Ele desencrava imagens e as enforma na música do verso para cravá-las outra vez no leitor. Ao folhear o livro em busca do inesperado, deparei-me com “Labirinto”, poema que abre a coletânea. O poema revela o trabalho alquímico de Georgio de transformar tudo em música e metáfora:


A humanidade é um vasto jardim,

com suas flores de hastes decepadas.


Tanger as labaredas

e

vagar por

este vasto jardim


Digladiando o imenso

labirinto...


E suas humanas flores

decepadas (p. 17).


Outro poema ferido e que fere com imortal beleza é “Metáfora”. Nele o “fingidor” revela-se uma andarilho numa estrada aberta entre os dedos: Sou o que sou// Sou cais/andarilho de destino comum//Sem tréguas/nem datas//Numa estrada aberta entre meu dedos”. A imagem desse poema envolve de frescor a velha metáfora do homem e do poeta com um caminhante numa estrada que vai do nada ao nada.


“Verdades” nos fere com a imagem do homem em busca do inefável:


Gosto de tudo que não conheço:


Das cores que não sei

Das fotos que não vi

Dos livros que nunca li


Das coisas que não sei

Dos versos que nunca escrevi (p. 22).


Enumeraria outros tantos que me tocaram enquanto leitor. Isso só revela a forma de Georgio de desentranhar a poesia das situações mais cotidianas como revelam os poemas “Hoje é domingo”, “Sábado”, “Meu quarto”, “O retrato dos pássaros na tarde” etc.


Modus operandi, apesar de minha inquietação com o título, revela o modo de operar do poeta Georgios Rios: a alquimia poética que transforma até a escatologia contemporânea em poema como em “Jardins Assustadores”:


As cores lúcidas

em gris transformadas


Cores pálidas

pousando sobre o rosto do homem

ser mambembe


Estamos todos com tinta no rosto

nesta história


Rostos lavados

na chuva suja


E o medo, bailando,

sob o olhar sinistro do fuzil


E estamos andando...

E sorrindo sem saber,

nesta caminhada errante

para o fim das história. (p. 46)


É isso, Georgio Rios é um fatalizado pela expressão poética. A poesia o escolheu para encantar o mundo, para promover o encontro do homem consigo mesmo.